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Nas civilizações antigas, a humilhação e a prepotência eram atributos do poder, ostentados como demonstrações de força e de status. Imperadores e faraós exibiam seu poder erguendo o cetro para decretar guerras ou decidir sobre a vida e a morte de súditos e de inimigos.
Atualmente, o bastão curto que os tiranos traziam nas mãos para ordenar foi substituído por decisões políticas. A maioria das guerras e conflitos são decretados diante de subordinados ou dos gravadores e dos microfones de jornalistas que se aglomeram em frente a líderes e dirigentes governamentais.
Desde épocas remotas sabemos que quem exerce comando ou desfruta de sucesso absoluto caminha em direção à onipotência e à tirania. O antigo poema épico de Gilgamesh narra essa trajetória de arrogância e do abuso à sabedoria, que pode ser identificada em alguns líderes no mundo.
Rei de Uruk, atual Iraque, Gilgamesh era um jovem arrogante e ditador tirânico, monstro que hostiliza, guerreia e oprime povos, à exemplo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e do ayatollah do Irão, Ali Khamanei. Netanyahu já atacou o Iêmen, a Síria, o Líbano, Gaza e, por último, o Irã. E os iranianos possuem um histórico de guerras com seu vizinho iraquiano.
A guerra de Netanyahu dura mais de 600 dias e já causou cerca de 70 mil mortos e mais de 120 feridos palestinos, incluindo crianças e mulheres, aos quais se juntam milhares de mortos iranianos, além da destruição maciça de infraestruturas e habitações. Mais de dois milhões de pessoas desalojadas das suas casas vagueiam a céu aberto pelos precários acampamentos improvisados.
Podemos imaginar um mundo sem guerra? Seria possível livrar o homem do espírito de Gilgamesh? Assim como no reino animal, do qual fazemos parte, alguns dos conflitos de interesse entre homens são resolvidos mediante o recurso à força, em que uma das partes é obrigada a se render. Vence que tem as melhores armas. Outros são solucionados através de meios diplomáticos e, nesse caso, ganha quem possui os argumentos mais concretos, o que significa que são respaldados pela força.
Mas, assim como Gilgamesh, que se comportou como um rei apiedado, aprendeu a governar e conseguiu fechar as portas da dor, sem egoísmo, violência ou ressentimentos, Netanyahu deveria seguir-lhe o exemplo e acabar com suas guerras pessoais. Mas isso não acontecerá porque, sem guerrear, será apeado do poder e terá de se confrontar com a Justiça, que muito provavelmente o despachará para atrás das grades por causa dos seus muitos crimes de corrupção. Portanto, suas guerras vão continuar.