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No Brasil, 25 de junho é o Dia do Imigrante. Pelo país, realizam-se festivais culturais, palestras, debates e encontros com imigrantes e refugiados, que celebram a diversidade que formou o Brasil.
A hoje brasileira Maha Mamo, 37 anos, viveu a mudança de país, de cultura e de língua e faz a avaliação. “Ser imigrante é um ato de coragem. A gente combate o medo para sobreviver. É preciso reconhecer a força que o imigrante tem para levantar todos os dias. Quem desistiu não emigrou”, afirma em conversa a partir dos Estados Unidos, onde vive com sua esposa.
Maha, autora do livro A luta de uma apátrida pelo direito de existir nasceu no Líbano, em 1988, e era apátrida. Filha de um cristão sírio, teve a nacionalidade libanesa negada. E foi difícil conseguir estudar. “Fui para uma escola armênia, que era a única que aceitava alunos sem documentos”, lembra.
Mesmo quando foi escolher o caminho profissional, a falta de documento de identidade condicionou o caminho. “Eu queria estudar medicina, mas tive que procurar uma universidade de que aceitasse. A única que me aceitou não tinha o curso de medicina”, relata, atualmente com um mestrado em administração.
Em 2014, com o passaporte amarelo – de apátrida – mudou-se junto com seus irmãos para o Brasil. “Foi a primeira vez que entrei em um avião e fui para o único país que me aceitou”, conta Maha. Em 1918, ela conseguiu obter a cidadania brasileira, devido à Lei de Imigração de 1917, que reconhece o direito à nacionalidade para os apátridas. Foi a primeira apátrida a ter o passaporte brasileiro.
Ela agradece a oportunidade que o Brasil deu, mas diz que não foi fácil. “Não davam oportunidades porque eu não falava português. Eu falava quatro línguas, francês, inglês, árabe e armênio, mas o meu primeiro emprego no Brasil foi panfletar nas ruas”, recorda.
Maha, que já foi convidada a falar no parlamento português, avalia a raiz das dificuldades enfrentadas pelos imigrantes. “Acho que falta empatia. É muito difícil se colocar no lugar do outro. É preciso entender que, quando uma pessoa emigra, a primeira coisa que quer é viver com dignidade. Ela está ali para ajudar a construir uma sociedade melhor”, fala por experiência.
Contribuir para o país
Mais conhecida pela defesa das mulheres vítimas de violência doméstica, Luiza Brunet, 63 anos, também se dedica à luta pelos direitos dos migrantes. “Eu acompanho o trabalho da OIM, a agência da ONU para as migrações, já há alguns anos. Estive agora no início do mês com a OIM em Brasília, Manaus, São Paulo e Porto Alegre, algumas das cidades em que a agência atua, e pude ver de perto como que ações de acolhimento e integração podem transformar a vida das pessoas mais vulneráveis e apoiá-las a seguirem em frente com autonomia”, revela.
Luiza se identifica com quem deixou o lugar onde nasceu para procurar melhores oportunidades em outro lado. “Eu também sou imigrante, mas interna. Fui do Mato Grosso para o Rio de Janeiro”, frisa.
Luiza Brunet defende a integração dos imigrantes
Divulgação
Ela celebra a abertura que o Brasil tem em relação a quem vem de fora e ajuda a construir o país. “Acho importante ressaltar a grande contribuição das pessoas migrantes em todo o mundo, e em especial no Brasil. Todos os dias, pessoas se movimentam dentro do país e além das fronteiras em busca de novas oportunidades e recomeços”, conta.
Sobre a imigração, Luiza considera fundamental tratar quem vem com dignidade. “É preciso respeitar as pessoas, independentemente da origem. As razões para alguém mudar de país podem ser a violência, o clima, questões econômicas. Para mim, é muito importante entender as razões da mudança”, afirma.
Na imigração, ela acredita que ganham os dois lados. “As pessoas são um motor de desenvolvimento e contribuem para o crescimento tanto dos seus locais de origem quanto das comunidades que as acolhem trazendo inovação, novos conhecimentos e muita vontade de somar e contribuir aonde chegam”, observa.
E, quanto à situação internacional, em que muitos países estão fechando as portas aos imigrantes, ela tem esperança de que isso vai mudar. “Acho que vivemos em um momento muito crítico. Acredito que possa haver uma reviravolta”, prevê.