Como relaxar
Primeiro um convite para abrandar no Alentejo. Ou melhor, dois: Amada Moura e Cenoura-Brava, refúgios onde o tempo desacelera.
Espreguiçadeira ou manta estendida? Balde de pipocas ou sorvete de alvarinho? Com curadoria ou de pé na areia? É à escolha do cinéfilo. O que não faltam são ciclos de cinema ao ar livre para aproveitar as noites de Verão.
Não querendo fazer filmes, há quem prefira relaxar com as mãos em lavores (o Festival Lavorada está cá para isso), a montar legos (há um foguetão português a postos e a maior das legolândias prestes a abrir) ou a confiar em livros (bem-vinda, biblioterapia).
É que, quando se trata de alinhar corpo e mente, tanto vale um Blissfest para promover o bem-estar (e tirar as práticas alternativas do nicho) como uma aplicação de inteligência artificial para fortalecer a saúde mental. Vale até ir à bruxa online, seja no WitchTok ou em plataformas que vendem… feitiços..
Por onde andar
Com a memória ainda fresca do São João, com São Pedro no coração (de Viseu) e com banda sonora fornecida pelo Med (e Cabo Verde), preparamo-nos para embarcar num cruzeiro que “compensa mais que o Algarve” ou encarrilar nas viagens estivais do comboio histórico do Vouga que volta à linha.
Isto enquanto percorremos a “obra forte e sem concessões” de Miriam Cahn no MAAT, escutamos o património que dá o tom ao Festival Estoril Lisboa, recolhemos notas de uma Lisboa desconhecida, observamos O Olho que vai às tábuas como desforra (delirante) d’As Crianças Loucas e assistimos a palcos da semana entretidos com Trengo e pimba.
O que comer
Fava Tonka, Esperança Verde, Encanto e Seiva – quatro exemplos do momento de ascensão da alta cozinha vegetariana às mãos de uma nova geração de chefs, como (com)prova João Mestre. E agora, toda a gente ao Pico – quem manda é o açoriano Bioma e a vontade de comandar uma revolução na gastronomia da ilha montanha.
Do Brasil chegam sabores que, em Lisboa, se misturam e, em Braga, trazem saudades de Belém do Pará – a sétima melhor cidade gastronómica do mundo na tabela Lonely Planet. O ceptro de melhor restaurante do mundo vai para o Maido (Lima), recém-coroado na gala do World’s 50 Best Restaurants, onde o Belcanto de Avillez alcançou o 42.º posto.
No Zunzum de Marlene Vieira, é o mar que se faz estrela: em mais uma semana gastronómica do gastrobar lisboeta, é o marisco que mais ordena. Miguel Esteves Cardoso prefere louvar aquela carne assada de outros tempos (com a sua “molhanga deliciosíssima” e cor-de-laranja) ou experimentar o encanto de um peixe desconhecido – sem arrependimentos.
O que beber
Junte-se o turismo à vontade de beber e podemos acordar com o Douro aos pés e piquenicar na vinha na Quinta de São José (São João da Pesqueira) ou recolher postais reconfortantes na Quinta de Cypriano (Ponte da Barca). Nas colinas em torno do lago Garda, no Norte de Itália, o desafio está nos vinhos low-alcohol – e o enoturismo é vital, assegura Ana Isabel Pereira.
Anunciados os “grandes ouros” do concurso dos Vinhos Verdes, provamos um grande branco que é “um raio de sol dourado que nos toca a alma” e, longe da luz em estágio submerso, o tinto de Lafões que a água da mina tornou mais fresco. Para uma nota de realeza, temos um rosé lançado por Meghan Markle, duquesa de Sussex.
O que ver
Da pole position das estreias desta quinta-feira nas salas de cinema parte F1 – O Filme, a acelerar para a história do piloto Sonny Hayes. Ao lado vai Nicolau à descoberta d’A Vida Luminosa filmada por João Rosas.
Ainda na sétima arte, Espinho assiste a um Fest de “novos cineastas e novos filmes” que reflectem os tempos em que vivemos, enquanto Vila do Conde aguarda por um Curtas “sem tempo para o desespero”. A Cinemateca deixa-se invadir pela luz de Eduardo Serra e dá espaço a Procuro T, a curta que nasceu do calvário de procurar casa em Lisboa.
No pequeno ecrã, o projecto Contado por Mulheres regressa aumentado para 20 realizadoras. E há um novo retrato de Andy Kaufman a espalhar A Comédia e o Caos.
O que ler
Um romance/falsa biografia em torno de Nadia Comaneci lembra que a ginasta “viveu o destino de qualquer mulher” que é ser “julgada pelo seu corpo” – palavra de Lola Lafon, a propósito de A Pequena Comunista Que Nunca Sorria. Thaís Vilarinho quer humanizar a maternidade com Mãe Fora da Caixa. E Alice Rivaz é recordada pelo gesto de emancipação que foi a “utopia amorosa” A Paz das Colmeias.
Numa Utopia Profunda está o filósofo Nick Bostrom, a revelar-se um “fatalista moderado” face aos caminhos da inteligência artificial. Valha-nos O Filho do Carpinteiro, a primeira antologia de A.E. Housman publicada entre nós.
(Re)arrumadas as estantes, reunidos escritores portugueses e americanos para o Disquiet e feito o alerta para o cada vez mais popular (e controverso) dark romance, abrimos um catálogo de novidades que inclui a biografia vencedora do Pulitzer 2025 e o novo romance de Joaquim Arena.
Por fim, as medalhas literárias: Prémio de Literatura José Craveirinha para Juvenal Bucuane, Grande Prémio de Literatura Biográfica Miguel Torga para Manuel Alegre e Grande Prémio Literatura de Viagens Maria Ondina Braga para Afonso Cruz.
Só falta bater à porta de uma casa azul para mostrar a miúdos e pais como um festival de gritos pode aliviar a revolta de uma mudança.