Os artigos da equipa do PÚBLICO Brasil são escritos na variante da língua portuguesa usada no Brasil.
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Quem vive em diásporas, não deve se aculturar jamais e, na mesma medida, tampouco viver confinado a guetos. É preciso conhecer a cultura do outro, estabelecer pontes de contato com o outro lado, mesmo quando estamos a falar de portugueses que defendem o passado colonizador, que abominam os emigrantes de sua própria pátria.
É preciso chamar o português “pro samba”. Mesmo aqueles que são descendentes de outros portugueses que, na mais profunda miséria em Portugal, não tiveram tomates “coração de boi” para agarrar em suas famílias, colocá-la no convés de uma vela latina e emigrar para a América do Sul ou do Norte.
O mercado da saudade não me interessa. O fel do gueto não me seduz. Este jornal, PÚBLICO Brasil, no qual venho escrevendo — que vive num T zero arrendado na redação do PÚBLICO, um dos mais interessantes jornais de língua portuguesa —, não pode se tornar um guichê de comunicação digital do consulado brasileiro.
Gostaria de ver publicado neste espaço a opinião de figuras da cultura portuguesa sobre o tema número um de Portugal no momento: a demonização do imigrante, escolhido como inimigo absoluto da nação na campanha vitoriosa de quem está no Governo, meticulosamente orquestrada pelo sublime marqueteiro brasileiro Sérgio Guerra, radicado em Angola.
Por falar em África, por que não convidar africanos também para escrever neste espaço e, assim, ganhar o ponto de vista de outros povos colonizados? Aproveitando o ensejo, por que não convidar artistas interessantes da agora escassa boa música branca portuguesa para falarem do assunto aqui neste espaço? Talvez num podcast na redação do PÚBLICO, beira Tejo.
Por que não convidar artistas da música preta lisboeta oriunda de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau para a roda? Ou será que todos estes hão de ficar vendo o circo pegar fogo de mordaça, com receio de perderem público e contratos de concertos nas câmaras municipais da direita?
Deixo aqui nomes que podem ajudar — e muito — a definir a narrativa a seguir na cultura, dentro do momento mais triste de Portugal desde 25 de Abril. Nomes que, certamente, não se contentam com o cheiro de naftalina dos cravos de Abril guardados na gaveta da mesa de cabeceira, nem, tampouco, com a esquerda “croquete de lavagante” do Chiado.
Camaradas Aldina Duarte, Paulo de Carvalho, Carminho, Paulo Flores, Maria João, Mário Laginha, José Eduardo Agualusa, Nancy Vieira, André Gago, Maria da Fé, Simone de Oliveira, Mário Pacheco, Jorge Palma, a postos? Alinham?
Puro mesmo, só a nossa deliciosa mistura.