Está com calor? Aqui estão oito coisas que não deve fazer quando estão 40 graus | IPMA


As previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) anunciam dias de muito calor, com as temperaturas a ultrapassar os 40 graus Celsius em algumas localidades. Avisos de tempo quente foram divulgados para várias regiões de Portugal continental, a partir desta sexta-feira e sábado, devido à persistência de temperaturas máximas elevadas.

“Face àquilo que o IPMA está a prever, esta poderá ser, de facto, uma situação complexa. Temperaturas superiores a 40 graus durante um conjunto de dias muito alargado, e sobretudo temperaturas mínimas também muito altas, trazem um impacto directo para a saúde”, afirma ao Azul Miguel Telo de Arriaga, director da Direcção de Serviços de Prevenção da Doença e Promoção da Saúde da Direcção-Geral da Saúde (DGS).

Coligimos oito recomendações do que não se deve fazer durante dias de calor extremo, por forma a proteger a nossa saúde e a dos que nos rodeiam, sobretudo os mais vulneráveis.

Não consumir bebidas alcoólicas

Bebidas frescas com álcool – como a cerveja fresca ou a caipirinha com gelo – podem proporcionar a sensação de arrefecimento, mas não hidratam o corpo. “É exactamente o oposto: o álcool vai interferir com a acção de uma hormona. Ao invés de retermos o líquido que ingerimos, temos vontade de expelir esse mesmo líquido. É por isso que quando se bebem muitas bebidas alcoólicas, habitualmente vai-se à casa de banho de uma forma muito mais frequente”, explica Miguel Telo de Arriaga.

A hormona arginina vasopressina ajuda a regular a quantidade de água no corpo humano, influenciando não só a reabsorção de água pelos rins como também a contracção dos vasos sanguíneos. O consumo de álcool inibe a libertação dessa hormona e prejudica a capacidade do corpo humano de reter líquidos. “E daí que o álcool aumenta o risco de desidratação, principalmente nos ambientes mais quentes”, explica António Teixeira, também da DGS.

Desaconselha-se ainda o consumo de bebidas quentes, gaseificadas, com cafeína e ricas em açúcar. O ideal é apostar na água – mesmo que não tenha sede – e nos sumos naturais. Crianças, grávidas e idosos inspiram mais cuidados e devem ser incentivamos a beber oito copos de água ao longo do dia.

Não ficar em viaturas ao sol

A temperatura no interior das viaturas tende a aumentar muito quando estas estão expostas ao sol, pelo que é fortemente desaconselhado permanecer em carros que não estejam estacionados à sombra. É preferível sair da viatura e procurar um lugar à sombra, preferencialmente arejado. Esta recomendação é ainda mais assertiva quando se trata de grupos vulneráveis, uma vez que há previsão de vários dias seguidos com temperaturas elevadas.

“Deve-se evitar a todo custo deixar bebés, crianças, pessoas idosas ou mais vulneráveis dentro de viaturas, bem como pessoas que tenham mais dificuldade em deslocar-se ou que não possuam a percepção de calor de uma forma tão activa. Isto porque o processo de desidratação vai acontecer de uma forma muitíssimo rápida, dado que a temperatura interior estará ainda mais alta que a exterior”, alerta Miguel Telo de Arriaga.

Não estar exposto ao sol forte

Os avisos do IPMA de tempo quente devem ser levados a sério no que toca à exposição solar, alerta o responsável da DGS. Para aqueles que têm essa possibilidade, é aconselhado resguardar-se do sol entre às 11h00 e às 17h00, preferencialmente em ambientes frescos. Deve-se ainda evitar a prática de exercício físico ao ar livre nesse intervalo.

“Face a temperaturas tão elevadas como estas que nós vamos ter nos próximos dias, as crianças até aos seis meses não devem estar expostas de forma alguma a estas temperaturas, e muito menos expostas ao sol de forma directa ao sol”, afirma Miguel Telo de Arriaga.

​Recomenda-se ainda a aplicação de protector solar, produto que deve ter factor de protecção igual ou superior a 30 e ser reaplicado a cada duas horas.

Não esquecer os mais vulneráveis

Durante a ocorrência de ondas de calor, temos de pensar não só nos familiares próximos que possam precisar de auxílio, mas também em vizinhos ou colegas com dificuldade de locomoção, deficiências, doenças crónicas ou algum tipo de condição que os torne mais vulneráveis. A ajuda pode assumir diferentes formas: disponibilização de ventoinhas, oferta de garrafas de água ou frutas ou transporte para espaços climatizados.

“As autoridades de saúde têm um papel muito importante face àquilo que está a acontecer agora, mas temos todos um papel também aqui enquanto cidadãos. Temos de activar o nosso papel de agentes de saúde pública e preocupar-nos com as pessoas que nos rodeiam, sejam os nossos vizinhos, pessoas que estão mais isoladas, pessoas mais velhas, e activamente procurarmos para perceber como se sentem e promover a a hidratação destas pessoas. Temos de convidá-las a beber água mesmo quando não têm sede”, aconselha Miguel Telo de Arriaga.

Não esperar ter sede para beber água

Em dias de temperaturas amenas, costumamos (ou devíamos) beber 1,5 litros de água por dia. Quando as temperaturas disparam, podemos ter de aumentar a ingestão de líquidos ao longo do dia – e não esperar que a sede bata à porta para o fazer.

“Este consumo de 1,5 litros por dia pode muitas vezes ter que ser reforçado se as pessoas tiverem muito calor ou se estiverem expostas a temperaturas mais elevadas. Isto equivaleria a beber algo como oito copos de água durante o dia, que devem ser bebidos de forma gradual e progressiva ao longo do dia. A hidratação nesta altura é muito, muito importante”, frisa Miguel Telo de Arriaga.

Não fazer refeições pesadas

Esta não será a melhor altura para comer papas de serrabulho ou preparar grandes assados. O ideal é dar preferência a alimentos frescos e leves durante os dias em que se registam altas temperaturas.

“Podemos apostar em refeições que nos permitam uma vez mais promover também alguma hidratação. E aqui podemos dar o exemplo das leguminosas, das frutas e das sopas frias. Portanto, tudo aquilo que nos permita esta hidratação através da alimentação será sempre melhor do que prepararmos refeições que exigem activar fontes de calor durante a confecção”, aconselha o responsável da Direcção-Geral de Saúde.

Não negligenciar sintomas graves

O calor extremo pode causar complicações graves para a saúde, “por vezes irreversíveis”, refere a DGS. Entre as consequências possíveis da exposição às altas temperaturas estão a desidratação grave, cãibras, agravamento de doença crónica, insolação, esgotamento devido ao calor e, em situações extremas, morte.

Há, portanto, alguns sintomas a que devemos estar atentos. “Podemos estar a falar de pessoas que se sentem extremamente cansadas, com o pulso muito fraco ou então com o pulso muito forte, com suores frios mesmo com temperaturas muito elevadas e desorientação e até mesmo a perda de estado de consciência. E, portanto, face a estes sintomas, é muito importante avaliarmos em função da gravidade”, afirma Miguel Telo de Arriaga.

Se houver perda de consciência, a recomendação é ligar de imediato o 112 e não oferecer água enquanto a pessoa permanecer inconsciente. Nas demais condições, será necessário ligar para o número 808 24 24 24 e procurar aconselhamento.

Não ignorar a crise climática

Há um consenso científico à volta dos fenómenos extremos: as alterações climáticas estão a tornar as ondas de calor mais frequentes e intensas. Embora haja registos de períodos de calor atípico antes da Era Industrial, quando a humanidade começou a queimar combustíveis fósseis desenfreadamente, com a crise climática as vagas de calor tornaram-se mais prováveis e nocivas.

Em Junho, as ondas de calor marcaram presença no Canadá, nordeste dos Estados Unidos e norte da Europa. Em todas essas geografias, as vagas registaram-se no início da estação – um fenómeno que espelha um padrão associado à crise climática. O clima de Verão parece ter pressa de chegar e preguiça de ir embora, podendo persistir de Junho a Setembro. Estes fenómenos que estamos a testemunhar constituem uma oportunidade para apoiarmos a acção climática e, desse modo, protegermos indirectamente a nossa saúde.

Uma onda de calor ocorre quando, num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos, a temperatura máxima diária é superior em 5 graus Celsius ao valor médio diário no período de referência, segundo a Organização Meteorológica Mundial. A exposição do corpo humano a dias consecutivos de calor extremo constitui, sublinha a Direcção-Geral de Saúde, “uma agressão para o organismo, podendo obrigar a cuidados médicos de emergência”.

As grávidas, por exemplo, enfrentam mais riscos devido à crise climática. A exposição ao calor extremo ameaça a saúde e o bem-estar das gestantes, aumentando a probabilidade de parto prematuro, morte fetal e nado-morto, entre outras complicações da gravidez.

“É importante nós não normalizarmos a onda de calor e as temperaturas elevadas. É Verão, é verdade, mas estamos a falar de um período de temperatura excepcionalmente quente e que, de facto, pode fazer mal à nossa saúde. Portanto, temos de nos proteger”, conclui Miguel Telo de Arriaga.



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