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A contagem dos votos nas Honduras continua envolta em incerteza depois do sistema de divulgação do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ter sofrido novas interrupções na madrugada de quinta-feira. As eleições realizaram-se a 30 de novembro e o país continua sem resultados definitivos.
De acordo com os dados oficiais do CNE, com 84,52% dos resultados processados, Nasry Asfura, o candidato do Partido Nacional conservador, mantém uma ligeira vantagem com 40,05% dos votos. Salvador Nasralla, candidato do Partido Liberal, de centro-direita, vem logo atrás, com 39,74%. O organismo eleitoral apelou à população para manter a calma e garantiu que as verificações continuam após as falhas detetadas no sistema de transmissão.
A tensão aumentou quando Nasralla denunciou publicamente que, durante uma falha no sistema às 03:24 da manhã de hoje, teria ocorrido uma alteração na visualização dos dados da contagem. O candidato afirmou que, quando a plataforma foi reativada, os resultados apresentados não coincidiam com os que tinham sido publicados antes da interrupção. Os meios de comunicação social hondurenhos também recolheram as suas críticas à lentidão do processo e o pedido para que o CNE cumpra rigorosamente os seus regulamentos internos.
A presidente do CNE, Ana Paola Hall, convocou com urgência a empresa responsável pelo sistema de transmissão para exigir explicações sobre o sucedido. A situação é “histórica” no país, afirmou, através do X. “De forma muito especial, faço um reconhecimento público aos funcionários do CNE que, dia e noite, trabalham em silêncio e com disciplina, para que o processo termine de forma limpa e pacífica”, acrescentou, numa publicação na rede social.
De acordo com a imprensa local de Tegucigalpa, a segurança no centro de contagem de votos do CNE foi reforçada depois de grupos de apoiantes se terem reunido nas proximidades para expressar o seu descontentamento face ao atraso e às interrupções na publicação dos resultados. As autoridades instalaram um perímetro adicional para proteger as instalações enquanto a contagem continua.
Resultados “manipulados”
De acordo com a agência noticiosa AP, várias organizações de camponeses realizaram um protesto junto da sede do CNE, rejeitando os resultados do órgão eleitoral, que consideram “manipulados”.
“Essa contagem de votos é uma afronta ao povo hondurenho. Acredito que não podemos normalizar as fraudes eleitorais neste país. Se hoje deixarmos isso acontecer, estaremos condenados a viver sob o jugo daqueles que sempre oprimem o país”, disse a líder da organização Vía Campesina, Wendy Cruz, à agência de notícias.
O CNE insistiu que não atribuiu o ocorrido a um ato de manipulação e apontou que as falhas se prendem com problemas técnicos na plataforma de transmissão, reiterando que a única informação válida é a publicada nos seus boletins oficiais.
O país continua à espera da proclamação final, enquanto continua a revisão das atas. O cenário político foi recentemente abalado pela libertação do ex-presidente Juan Orlando Hernández, perdoado por Donald Trump após a sua condenação por tráfico de droga nos Estados Unidos. Além disso, o presidente norte-americano acusou, na segunda-feira, sem provas, as autoridades eleitorais hondurenhas de “tentarem alterar” o resultado da votação presidencial. Trump apoiou abertamente o candidato conservador Nasry Asfura. Por sua vez, Nasralla disse, também na segunda-feira, que, apesar do apoio de Trump ao seu rival, confiava que o resultado final lhe seria favorável.