Apesar das notícias de que o Presidente dos Estados Unidos vai receber o primeiro-ministro de Israel para conversações sobre um cessar-fogo com o Hamas, os ataques das forças israelitas na Faixa de Gaza não dão tréguas e o número de palestinianos mortos aumenta diariamente. Na segunda-feira, o balanço feito pelos serviços médicos foi de pelo menos 74 pessoas mortas no enclave.
Destas, 30 foram mortas pelo ataque aéreo a um café à beira-mar na Cidade de Gaza e outras 23 morreram quando tentavam obter ajuda alimentar, segundo os relatos feitos por testemunhas e pessoal médico à Associated Press (AP).
“Sem qualquer aviso, de repente, um avião atingiu o local, abalando-o como se fosse um terramoto”, disse à AP Ali Abu Ateila, que estava no interior do café Al-Baqa, quando foi atingido.
Trata-se de um dos poucos negócios que continua a funcionar desde que a guerra começou, há 20 meses, e tornou-se um local onde as pessoas se juntam para carregar os telemóveis e ter acesso à Internet. À hora do ataque estava cheio de mulheres e crianças, disse Ali Abu Ateila. Uma das vítimas mortais foi o fotojornalista palestiniano Ismail Abu Hatab.
Segundo a BBC, que fala em pelo menos 20 mortos no ataque, o café junto ao mar tornou-se um ponto de encontro para jornalistas, activistas e trabalhadores remotos.
“Estava a caminho de um café para usar a Internet, a poucos metros de distância, quando houve uma enorme explosão”, contou à BBC Aziz Al-Afifi, um operador de câmara de uma produtora local. “Corri para o local. Os meus colegas estavam lá, pessoas com quem me cruzo todos os dias. A cena era horrível – corpos, sangue, gritos por todo o lado”, explicou este palestiniano.
Além dos 30 mortos, dezenas de pessoas foram feridas, algumas com gravidade, de acordo com o responsável do Ministério da Saúde (do Hamas) pelo serviço de emergência médica e ambulâncias do Norte de Gaza, Fares Awad. As vítimas foram transportadas para o hospital Shifa, que também recebeu os 15 mortos de outro ataque aéreo numa rua da cidade de Gaza.
O hospital Al-Aqsa reportou a morte de seis pessoas num edifício bombardeado perto da cidade de Zawaida, no centro da Faixa de Gaza, e hospital Nasser, na cidade de Khan Younis, no Sul do país, disse ter recebido os corpos de pessoas baleadas quando regressavam de um local de distribuição de ajuda da Gaza Humanitarian Foundation (GHF, na sigla em inglês), onde soldados israelitas denunciaram ter ordens superiores para disparar sobre as multidões.
ONG apelam ao fim da GHF
A BBC dá conta que há 130 organizações humanitárias, como a Oxfam, a Save the Children e a Amnistia Internacional, que exigem o desmantelamento deste sistema montado e financiado por Israel e pelos Estados Unidos e que passou a ser responsável pela quase totalidade da distribuição de ajuda no centro e Sul de Gaza.
“Hoje, os palestinianos em Gaza enfrentam uma escolha impossível: morrer à fome ou arriscar-se a serem alvejados enquanto tentam desesperadamente alcançar comida para alimentar as suas famílias”, disseram as organizações humanitárias num comunicado conjunto, citado pela emissora pública britânica.
Segundo o ultimo balanço oficial das Nações Unidas, as forças israelitas já mataram pelo menos 410 pessoas nestes centros de distribuição (desde 27 de Maio), mas estes números foram apresentados no dia 24 de Junho e todos os dias surgem novos relatos de vítimas causadas pelos disparos israelitas.
O Ministério da Saúde de Gaza contabiliza 11 mortos nos ataques de segunda-feira, que ocorreram a cerca de 3 quilómetros das instalações da GHF em Khan Younis, quando os civis estavam a regressar do centro pela única via acessível.
Yousef Mahmoud Mokheimar, que caminhava junto com dezenas de outras pessoas quando viu tanques e outros veículos a avançarem sobre a multidão, disse à AP que os soldados abriram fogo indiscriminadamente. Ele foi atingido numa perna e outro homem foi atingido quando procurava ajudá-lo.
Segundo o hospital Nasser, uma pessoa foi morta noutro ponto da GHF na cidade de Rafah, e uma outra morreu enquanto aguardava por ajuda junto ao corredor de Netzarim, que separa o Norte e o Sul de Gaza, indicou o hospital Al-Awda.
O Ministério da Saúde revelou ainda que dez pessoas morreram junto a um armazém das Nações Unidas no Norte do território.
No domingo as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) lançaram avisos de evacuação nas zonas a norte de Gaza e, desde então, os bombardeamentos intensificaram-se na região, principalmente sobre a Cidade de Gaza e o campo de refugiados de Jabalia.
Os testemunhos dão conta de ataques sobre edifícios vazios e infra-estruturas civis. “Eles destroem o que quer que seja que ainda esteja de pé”, contou Mohamed Mahdy, um habitante da cidade de Gaza forçado a abandonar a sua casa na segunda-feira.