“O BBVA decidiu não retirar a oferta”: o BBVA, grupo espanhol que tem uma sucursal em Portugal, vai manter em cima da mesa a oferta pública de aquisição (OPA) sobre o concorrente espanhol Sabadell, mesmo apesar das limitações que foram impostas pelo Governo de Pedro Sánchez.
A informação, publicada pelo banco espanhol nesta segunda-feira, 30 de Junho, vem mostrar que a transacção que visa criar um ainda maior banco em Espanha terá novos capítulos. E, apesar de o Governo sublinhar que não estava a travar a transacção, mas a proteger o interesse público, este acaba por ser um passo do BBVA que contraria a vontade de um executivo cujo primeiro-ministro está sob forte pressão política pela via judicial.
O BBVA podia desistir da oferta, tendo em conta que o Governo agravou as exigências da autoridade espanhola da concorrência, determinando que, pelo menos nos próximos três anos (podendo ser estendido por mais dois), não poderá haver uma fusão entre as duas entidades bancárias, ou seja, terão de manter estruturas autónomas, com políticas de recursos humanos iguais às registadas até aqui. “Vai atrasar a materialização de parte das sinergias estimadas”, admite o banco em comunicado publicado no seu site.
De qualquer forma, a imposição de condições pelo Governo integra a decisão de aceitação da oferta, pelo que o BBVA poderá agora seguir em frente, mesmo que sem podendo fazer uso das sinergias de custos que contava, nomeadamente com encerramento de balcões ou diminuição do número de trabalhadores. Um dos gestores do banco tinha admitido a hipótese de ir para os tribunais contra a decisão governamental, mas não há qualquer referência a isso nesta nota publicada no início da semana.
“O projecto cria valor significativo para os accionistas das duas instituições e representa uma oportunidade única para constituir um dos bancos europeus mais competitivos e inovadores da Europa”, segundo diz Carlos Torres, citado no comunicado do BBVA, mencionando o incremento de cinco mil milhões de euros de capacidade de financiamento a empresas e a famílias a cada ano.
Ainda mesmo antes dos limites aplicados por Madrid, o líder do banco basco, Carlos Torres, tinha sinalizado que a decisão sobre o sucesso da OPA estava nas mãos dos accionistas do Sabadell. A administração classificou a OPA como “hostil” — e tem uma página no seu site a sinalizar isso mesmo, tentando mostrar que as duas vezes em que o banco disse “não” ao Sabadell, em 2020 e no início de 2024, foram benéficas para os accionistas. Tem esperança que o consiga fazer pela terceira vez.
O Banco Sabadell, de menor dimensão que o BBVA, já foi um banco com presença mais forte em Portugal, tendo inclusive sido um parceiro do português BCP. O PÚBLICO confirmou que já não há ligação entre as duas entidades, pelo que o banco privado português já não tem qualquer posição no Sabadell e não terá de se posicionar na OPA que foi lançada há mais de um ano, em Maio de 2024. Agora, caberá ao regulador do mercado de capitais, a CNMV, na sigla espanhola, aprovar o registo da oferta, com a publicação do respectivo prospecto, o que o BBVA espera que seja nas próximas semanas.
Segundo o site da CNMV, a gestora americana de activos BlackRock tem 6,8% dos direitos de voto do Sabadell (duplicou o seu peso em Junho de 2024, após o anúncio da OPA), acima dos 4,1% imputados à seguradora Zurich. A BlackRock é, também, a principal accionista do BBVA, com iguais direitos de voto de 6,8% (com exposição indirecta e não directa).
A decisão de o BBVA manter a oferta ocorre quando o Sabadell tem de decidir o que vai fazer em relação ao seu banco no Reino Unido, o TSB. A hipótese de venda do banco inglês foi vista como uma forma de ganhar músculo para se defender da OPA do BBVA, com maiores ganhos para os accionistas. A agência internacional de informação Reuters adiantou que o Santander e o Barclays estão a concorrer por aquele banco, que tem a sétima maior rede física no Reino Unido.