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A educação alimentar não consta na grade curricular dos ensinos públicos de países como Franca, Canadá e Brasil, apesar de ser fundamental nas vidas de todos. Essa é uma das reflexões feitas pela brasileira Janaína Torres, que participou da 2ª edição do Global Kitchen Porto, no último fim de semana. A programação, que conta com chefs nacionais e internacionais para que reinterpretem pratos icônicos da cidade, é uma promoção da Câmara Municipal do Porto. Janaína foi considerada, em 2024, a Melhor Chef Feminina do Mundo, de acordo com o ranking The World’s 50 Best Restaurants.
Tomar o café da manhã, almoçar e jantar são condições mínimas para um viver digno. Ou seja, desde que acordamos, estamos praticando a educação alimentar, que está inserida na matemática, na história, na geografia, na tecnologia, nas artes e em várias outras áreas do conhecimento. “As crianças, desde pequenas, deveriam aprender isso nas escolas. A gastronomia me ensinou tudo e é para mim a ferramenta mais importante que existe no mundo, porque aqui estou, com vocês, falando dela”, afirma a chef, que em São Paulo, é a responsável por empreendimentos como o Bar da Dona Onça, a Casa do Porco, o Hot Pork, a Merenda da Cidade e a Sorveteria do Centro.
Janaína usa a gastronomia como ferramenta para o conhecimento e a considera uma verdadeira escola da vida. Na Europa, como ela diz, “se expressando em português e se sentindo como se estivesse em casa”, aproveitou para mostrar a força do milho, da mandioca e do tucupi, que trouxe na mala e que, no entender dela, são alimentos que representam a milenar ancestralidade brasileira.
“Ouro líquido”
No desafio feito a chef brasileira, o prato escolhido foi filetes de polvo com arroz do mesmo (tradicional na cidade do Porto). E ela não se fez de rogada e preparou o arroz de polvo à moda do Brasil, ao qual adicionou o “ouro líquido”, como é conhecido o tucupi, caldo amarelo extraído da mandioca. Em evento anterior, Janaína havia reinterpretado as tripas à moda do Porto e a francesinha.
“Quis mostrar aos portugueses a nossa história e a identidade em nosso momento mais ancestral, por isso, fiz essa releitura”, acrescenta a chef, que, antes de chegar, ao Porto esteve em Turim, na Itália, entregando o prêmio de Melhor Chef Feminina do Mundo 2025 para a sua sucessora, a tailandesa Pichaya “Pam” Soontornyanakij.
Janaína ressalta: “Nossa gastronomia é fantástica por conta de nossos povos originários, com a riqueza do açaí, do tucupi, do peixe frito, do peixe de rio e das diversas farinhas (tapioca, mandioca, castanha, caju, milho). Isso somado a outras culturas, como a portuguesa. Ou seja: nós, brasileiros, temos a melhor gastronomia do mundo”.
Culinária portuguesa
Anfitrião do evento, o chef português Pedro Lemos, que responde pelo restaurante que leva seu nome, além de projetos como Casa dos Ecos e Bonfim 1896, no Douro, menciona, num bate-papo com Janaína, a riqueza gastronômica de Brasil e Portugal e cita que um dos produtos que usa, em vários pratos, é a farinha de mandioca. A partir de agora, vai acrescentar também o tucupi nas receitas.
“Certamente, vou usar o tucupi, pois é um produto com muita história e força. Outro alimento que, para mim, é espetacular é o feijão, além do milho e vários temperos. Hoje em dia, as pessoas não comem só para se alimentar, querem saber a origem dos alimentos. E esta relação de grandeza entre Brasil e Portugal é linda”, destaca Pedro, que adora a música do Brasil e associa esta arte à gastronomia.
Catarina Santos Cunha, vereadora voltada para o Turismo e a Internacionalização da Câmara do Porto, diz que encontros gastronômicos são absolutamente fundamentais, principalmente, em duas culturas que deram tanto uma à outra, como a brasileira e a portuguesa. “Este evento, para nós, em termos turísticos, também é muito relevante, por termos cada vez mais brasileiros vivendo na cidade”, frisa.