Observo, com o tédio que o assunto merece, mas com a atenção que a brutalidade impõe, a súbita paz que desceu sobre o Médio Oriente. Um “cessar-fogo”, dizem-nos as notícias, entre Israel e o Irão. A gente de bem, que há meses se desfazia em lamentos sobre a inevitabilidade do Apocalipse, respira agora de alívio e prepara-se, suspeito eu, para escrever longos e pios editoriais sobre o triunfo da razão. A capacidade humana para a auto-ilusão é, verdadeiramente, a única constante da História.
Porque esta paz, esta quietude momentânea, não nasceu, como é óbvio, de uma súbita conversão dos ayatollahs ao pacifismo kantiano. Nasceu de um acto de uma clareza primitiva, uma intervenção que dispensa os equívocos da semântica diplomática. Nasceu do facto de o Presidente dos Estados Unidos, regressado ao seu posto por vontade de um povo farto de boas maneiras e maus resultados, ter ordenado que se bombardeassem as instalações nucleares iranianas. O cessar-fogo não é um acordo; é uma consequência. É o silêncio que se segue a uma explosão.
Aqui reside a chave de toda a questão, a lição que os nossos “homens sérios” se recusam teimosamente a aprender. Durante anos, a política ocidental para com o Irão foi um exercício de ficção. Acreditou-se, ou fingiu-se acreditar, que um regime cuja única razão de ser é teológica e expansionista poderia ser contido com sanções mitigadas e com acordos que, na prática, financiavam o seu projecto imperial. Era uma política feita de esperança e de cobardia, a combinação que precede sempre todas as grandes catástrofes.
Trump, na sua primeira encarnação, já tinha percebido a futilidade disto. Tentou asfixiar o regime, identificando-o como a fonte do mal. Foi chamado de tudo. Os seus sucessores, imbuídos de uma moralidade superior, voltaram à fantasia, e o mundo pagou o preço, com a desordem a alastrar do Levante às planícies da Ucrânia. Agora, de regresso ao poder, e liberto da necessidade de agradar a quem quer que seja, Trump aplicou a solução final. Não a solução “negociada”, essa miragem dos fracos, mas a solução que o poder real aplica quando a paciência se esgota. Mandou destruir o brinquedo nuclear dos ayatollahs.
O presente “cessar-fogo” não é, portanto, um diálogo. É um monólogo. É a resposta balbuciada pelo vencido ao argumento irrefutável do vencedor. O Irão não cessou as hostilidades por ter visto a luz, mas por ter visto o fogo. Israel não está em paz por ter encontrado um parceiro, mas porque o seu inimigo foi temporariamente neutralizado pela única potência que ainda tem estômago para a violência necessária.
A política de Donald Trump, que a indigência analítica dos seus comentadores insiste em chamar de “caótica”, revela-se assim de uma lógica implacável. Ele não procura “gerir” os problemas. Procura eliminá-los. Não negoceia com a ameaça; decapita-a. Não assina tratados com o inimigo; desarma-o. É uma forma de estar no mundo que horroriza as almas sensíveis, as mesmas que, paradoxalmente, gozam agora de uma tranquilidade que não foram capazes de construir.
A paz de que o Médio Oriente desfruta hoje é a paz romana. Uma Pax Americana imposta pela força, não pelo consenso. É uma paz feia, brutal e, provavelmente, mais duradoura do que qualquer acordo assinado em Genebra. Os homens sérios queriam um mundo governado por regras. Trump recordou-lhes, de forma bastante ruidosa, que são os governantes que fazem as regras. E o silêncio que se ouve hoje, do deserto persa ao Potomac, é o som do mundo a tomar nota.