Eficiência energética: ar condicionado, carbono zero | Sustentabilidade


João Pedro Araújo trilhou o seu próprio caminho desde o momento em que tomou as rédeas do negócio de família, em meados dos anos 1990. Na Quinta de San Joanne, na sub-região de Amarante, atreveu-se a produzir exclusivamente vinhos sem adição de gás carbónico, a plantar só castas nacionais (abriu apenas a excepção para um chardonnay que lhe permitiu pôr o pé na porta no mercado de exportação), e a pensar os seus vinhos para o teste do tempo.

Além disso, trazia também algumas preocupações com o impacto ambiental da actividade da quinta. “Nunca usámos herbicidas. Usávamos – e ainda usamos – pulverizadores que gastam muito pouca água. E tínhamos também tractores de baixo consumo de combustível”, enumera. Na adega que construiu em 1996, ainda a sustentabilidade não era uma preocupação transversal – “na altura, [ecologia] era a palavra que se usava”, um termo muito mais restrito e monofocal –, ocorreu-lhe testar uma alternativa aos sistemas de frio para regulação da temperatura de armazenamento dos vinhos.

O consumo energético era elevado e, mesmo que as emissões de CO₂ não fossem uma prioridade então presente, importava também salvaguardar a sustentabilidade do negócio.

Não inventou, propriamente, nada de novo. “Se se reparar, aqui no Minho há algumas casas [senhoriais] bem conhecidas que têm esse sistema. Estou-me a lembrar, por exemplo, da casa da Aveleda”, aponta João Pedro Araújo, sublinhando que não se trata apenas de efeito estético. A própria casa grande da Quinta de San Joanne – a Casa de Cello que dá nome ao produtor – está, também ela, envolta em trepadeiras, nomeadamente na parede exterior da adega primitiva da propriedade.

Por volta de 2000, o produtor plantou em redor da adega nova vários pés de vinha-virgem, uma planta de origem asiática, da família da videira vinífera, que não dá fruto.

A componente estética não é de desprezar, é certo, considerando o enquadramento de vinha que rodeia o edifício, porém a vinha-virgem tem outra grande vantagem: é, tal como a videira, uma planta de folha caduca, garantia de folhagem frondosa nos meses quentes e de paredes expostas ao pouco Sol que brilhar nos meses invernosos.

O resultado prático, testado ao longo de duas décadas e meio, é inequívoco. A redução da temperatura ambiente no interior da adega ronda os 7° C e, excluindo dias de temperaturas extremas, a cobertura de vegetação consegue, por si só, manter o interior da adega em redor dos desejáveis 17° C. Quando esses calores atacam, assim como nos períodos de vindima e de fermentação, já se torna necessária alguma assistência dos sistemas de frio. “A fermentação é a transformação do açúcar em álcool com libertação de calor, portanto, se não arrefecermos a cuba, ela vai atingir temperaturas até 38° C ou 40° C. Aí não é possível ter este efeito.”

A poupança de consumo, João Pedro não a tem exactamente calculada, mas assegura que, após a aplicação deste sistema de refrigeração natural, a redução na conta de electricidade foi “da ordem dos 50 por cento”.

“Os antigos faziam coisas com alguma lógica”, remata o produtor. “Não tinham os mesmos meios, portanto [pensavam] um pouco mais nos problemas.” Tal como o vinho, as boas ideias resistem ao teste do tempo.

CASA DE CELLO
Quinta de San Joanne, Mancelos (Amarante)
GPS: 41.2724, -8.1628
Tel.: 916136980
Web: casadecello.pt
Visitas desde 20 euros por pessoa (inclui prova 2 vinhos), só por marcação


Este artigo foi publicado na edição n.º 16 da revista Singular. A Singular é uma revista do PÚBLICO com o apoio da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. A Singular é uma publicação estritamente editorial, concebida, produzida e editada pela redacção do PÚBLICO com total independência e em cumprimento das regras internas para conteúdos apoiados. ​Para saber mais sobre a política de conteúdos apoiados do PÚBLICO, clique aqui.



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