05/12/2025 – 11:10 GMT+1
O Comando Sul dos EUA retomou os ataques letais contra alegados barcos de narcotraficantes, matando quatro pessoas, no contexto de um escrutínio bipartidário da campanha antidroga do Pentágono.
As forças armadas norte-americanas afirmam ter efetuado mais um ataque contra um barco suspeito de tráfico de drogas no leste do Oceano Pacífico, pondo fim a uma pausa de quase três semanas, numa altura em que os legisladores intensificam o escrutínio da campanha letal do Pentágono contra suspeitos de narcotráfico.
O Comando Sul dos EUA disse, em comunicado, que quatro pessoas foram mortas na última operação, realizada no âmbito da Operação Southern Spear, uma missão que visa combater o tráfico marítimo de drogas.
“A Southern Spear realizou um ataque letal contra uma embarcação em águas internacionais operada por uma organização terrorista designada”, afirmou o Comando.
Acrescentou que os serviços de informação indicavam que a embarcação transportava estupefacientes ilícitos ao longo de uma rota de tráfico conhecida.
A investida surge num contexto de críticas bipartidárias relativamente a um ataque que ocorreu a 2 de setembro, no qual as forças norte-americanas terão lançado um bombardeamento subsequente que matou os sobreviventes de um ataque inicial a outro navio suspeito de transportar drogas.
Os legisladores de ambos os partidos questionaram a legalidade e a supervisão da campanha, e vários democratas pediram a demissão do secretário da Defesa dos EUA, Pete Hegseth.
De acordo com os números divulgados pela administração Trump, 23 embarcações suspeitas de estarem envolvidas no transporte de droga foram visadas desde o início da operação, tendo morrido pelo menos 87 pessoas.
O Congresso não autorizou o uso de força militar especificamente para estes ataques marítimos e as tentativas de limitar a autoridade do presidente foram bloqueadas pela Câmara dos Representantes, controlada pelos republicanos.
Almirante nega ter dado ordem ilegal
Uma investigação do Congresso sobre o incidente de 2 de setembro está em curso. Na quinta-feira, o almirante Frank “Mitch” Bradley, que supervisiona certos elementos da operação, prestou esclarecimentos perante os legisladores numa sessão fechada e confidencial.
Negou ter emitido, recebido ou transmitido qualquer instrução do tipo “matem-nos a todos” ou “sem piedade”, que tem vindo a ser atribuída a Hegseth nos meios de comunicação social.
“Bradley foi muito claro ao afirmar que não lhe foi dada tal ordem”, disse o senador Tom Cotton, que preside a Comissão de Inteligência do Senado.
No entanto, os legisladores que saíram das reuniões apresentaram relatos divergentes sobre o que os dois sobreviventes estavam a fazer quando foram mortos, destacando a incerteza em torno do incidente. Alguns membros sugeriram que a operação pode levantar questões sob as leis de conflito armado.
Reações políticas divergentes
Muitos legisladores republicanos alinhados com Donald Trump defenderam a abordagem do governo, argumentando que a interdição agressiva é necessária para desmantelar redes criminosas transnacionais.
Os democratas, por sua vez, insistiram numa maior transparência, invocando a falta de autorização explícita do Congresso e o número de mortes civis.
A campanha, que se concentrou principalmente nas águas próximas à Venezuela, alimentou o atrito diplomático com Caracas.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, acusou Washington de utilizar as operações de combate ao narcotráfico como um pretexto para desestabilizar o seu governo, uma alegação que as autoridades norte-americanas negam.
Entretanto, Washington designou o Cartel dos Sóis – uma rede informal de comandantes militares venezuelanos e outras figuras importantes acusadas de tráfico organizado de drogas – como organização terrorista estrangeira.
Os EUA também acusaram Maduro, que enfrenta acusações de narcoterrorismo apresentadas em 2020, de liderar o grupo, o que este negou repetidamente.