Jorge Dias: Um peso-pesado para os Vinhos Verdes | Vinhos verdes


Não foi fácil nem rápido, e enquanto outras das grandes empresas nacionais do sector do vinho iam anunciando a sua entrada nos Vinhos Verdes, o grupo Gran Cruz mantinha-se firme na vontade de adquirir a Quinta S. Salvador da Torre. “Foi uma paixão longa, um caso de namoro continuado, que se arrastou uns seis a sete anos, mas sabíamos desde o início que esta propriedade era aquilo que procurávamos”, conta o líder do grupo, Jorge Dias.

Tão longo foi o namoro desta quinta que o grupo Gran Cruz passou, entretanto, a chamar-se Granvinhos, tendo o negócio sido concretizado em finais de Março de 2023. A propriedade histórica de origem medieval, toda murada, remete no seu passado para os domínios do Mosteiro Beneditino da S. Salvador da Torre, que recebeu carta de couto de D. Afonso Henriques em 1129. A construção do solar e casa senhorial data de 1685, incluindo a capela em honra de Santo Isidro – nome pelo qual a quinta passou também a ser conhecida –, e as últimas remodelações aconteceram há cerca de cem anos, no início do século passado.

Ao todo, são 37 hectares, 30 deles com vinha completamente rodeada pelo verde intenso da floresta. Os vinhedos, orientados para sul, deslizam até à margem esquerda do Lima, já a cerca de uma dezena de quilómetros da foz, em Viana do Castelo. “Uma magnífica propriedade agrícola numa extraordinária localização, que beneficia da brisa marítima característica de todo o vale do Lima, sobretudo tendo em atenção as alterações climáticas com que a viticultura se confronta”, como realçou a Granvinhos quando anunciou a compra ao Grupo Soja de Portugal.

Mas Jorge Dias via mais longe, já que, além das condições naturais e do enquadramento favorável, a quinta conjugava ainda outras duas vantagens determinantes. Por um lado, o encepamento com as castas loureiro e alvarinho e, por outro e para si ainda mais decisivo, o facto de a plantação ter sido já orientada por Anselmo Mendes, que desde há década e meia vinha explorando as vinhas.

“Acredito no futuro do Vinho Verde, defende. Particularmente com as castas alvarinho e loureiro, um produto adaptado aos novos tempos e hábitos de consumo” e que, como se sabe, tem beneficiado da experimentação e expertise de Anselmo Mendes para conquista crescente de prestígio e valor junto dos consumidores. Mesmo assim, o homem-forte da Granvinhos entende que, como produto, “o Vinho Verde necessita ainda ser valorizado pela ligação às respectivas zonas de produção, bem como à dieta atlântica, na qual Portugal tem uma oferta ímpar”.

Jorge Dias di-lo com a autoridade que lhe é reconhecida. Não só como um dos gestores mais determinantes no sector do vinho nas últimas décadas, mas também pelo seu percurso profissional. Do governo, por onde passou como chefe de gabinete de Bianchi de Aguiar, então secretário de Estado do Desenvolvimento Rural, à docência na UTAD e presidência do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Participou também na criação da Lavradores de Feitoria e na classificação do Douro Vinhateiro como Património Mundial.

Como director-geral da Gran Cruz, transformou por completo a empresa detida pelo grupo La Martiniquaise – um dos gigantes mundiais do sector das bebidas – num dos mais relevantes operadores nacionais do mercado dos vinhos. Antes apenas exportador de vinhos do Porto de categorias inferiores, o agora grupo Granvinhos partiu também para a produção de vinhos com a compra de quintas e adegas, com uma facturação que ronda já os 120 milhões de euros.

Com a parceria de Anselmo Mendes, na quinta de S. Salvador da Torre a aposta é, por enquanto, apenas nos vinhos de qualidade superior, a que se seguirá também o projecto de enoturismo que ajude a posicionar também a região nos mais altos patamares. Ou seja, com Jorge Dias, os Vinhos Verdes ganham também um peso-pesado do sector.


Este artigo foi publicado na edição n.º 16 da revista Singular. A Singular é uma revista do PÚBLICO com o apoio da Comissão de Viticultura da Região dos Vinhos Verdes. A Singular é uma publicação estritamente editorial, concebida, produzida e editada pela redacção do PÚBLICO com total independência e em cumprimento das regras internas para conteúdos apoiados. ​Para saber mais sobre a política de conteúdos apoiados do PÚBLICO, clique aqui.



Source link

Mais Lidas

Veja também