O ex-presidente do Grupo Itaú Carlos Câmara Pestana morreu este sábado, na sua casa do Estoril, aos 93 anos. O velório realiza-se a partir das 18h deste domingo, na Igreja de Santo António do Estoril, com missa agendada para segunda-feira às 14h30, seguindo-se a cerimónia de cremação.
Advogado de formação, Câmara Pestana liderou o antigo Banco Português do Atlântico até Julho de 1974, quando partiu para o Brasil com esperança de aí vir a refazer a sua vida profissional. Após 15 anos a desempenhar vários cargos no Banco Itaú, torna-se em 1990 presidente executivo, função que deixa em 1994, para assumir a presidência da holding do grupo, a Itaúsa. Em 2008, após a morte de Olavo Setúbal, accionista fundador, assume a presidência não executiva do Itaú.
Câmara Pestana desempenhou ainda cargos não executivos na administração do BPI, em representação do Banco Itaú, que detinha uma posição de referência no banco, vendida em 2012 ao espanhol CaixaBank.
Foi um dos banqueiros mais bem-sucedidos de Portugal e do Brasil do último meio século, considerado, antes do 25 de Abril, um dos obreiros da transformação do Banco Português do Atlântico (BPA) num império financeiro mais poderoso do que os grupos Mello ou Espírito Santo. Ao português atribui-se ainda o papel de grande transformador do Itaú Unibanco no mais importante banco privado da América Latina.
Ontem, vários órgãos de comunicação social brasileiros davam conta disto mesmo. O Valor Econômico destacava “o papel fundamental” do banqueiro português “na preparação do banco para a queda da inflação que veio em 1994 com o plano real”. Já o Estadão reproduzia declarações do CEO do Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, que considera Câmara Pestana “um dos maiores nomes da história do Itaú Unibanco e do sector bancário”, que “mais do que um executivo brilhante, foi um verdadeiro mentor de gerações, um arquitecto de valores e um exemplo de liderança ética, estratégica e humana”.
A 12 de Janeiro de 2014, num perfil publicado na revista de domingo do PÚBLICO, com o título “O banqueiro que viveu duas vezes”, Câmara Pestana dizia-se o “resultado da educação e da cultura” que teve, mostrando-se convicto dos seus valores conservadores, da Opus Dei e da estabilidade do salazarismo. Então, contou que existia em Portugal, até 1972, o hábito do sector bancário português recorrer a “sacos azuis” para se fazerem pagamentos não documentados, prática a que, na sua qualidade de presidente do Grémio Bancário (redenominada a seguir a 1974 de associação de bancos) pôs fim. Explicou: “Várias vezes disse que se o 25 de Abril nos tivesse apanhado nessa situação [sacos azuis], os banqueiros tinham ido todos para a prisão.”