Fernando Alexandre é um profissional competente e uma pessoa estimável, falta saber se será um bom ministro da Educação. A frase título terá sido dita por ele para explicar que o ministério não consegue ter dados fiáveis sobre o número de alunos sem professores, por não terem sido colocados, e quantas horas foram perdidas por este motivo.
O ministério só não tem esses dados porque não trabalhou para isso, porque os serviços respetivos, embrulhados numa burocracia asfixiante, não conseguem processar a informação que as escolas conseguem reportar.
Para concluir isto não era necessário adquirir os serviços de uma consultora e gastar cerca de 50 mil euros que podiam ser mais bem utilizados numa aplicação que automatizasse a recolha de dados, assim facilitando o conhecimento dos problemas.
Mesmo sem aplicações sofisticadas, qualquer escola conhece os dados e está em condições de os reportar. As respetivas direções, com o apoio dos seus serviços administrativos, sabem quantos docentes estão colocados, respetivos grupos, quantos falta colocar, quantas turmas/alunos estão sem aulas por este motivo, quantas horas foram perdidas.
Enquanto os processos de recolha não estiverem automatizados podem sempre utilizar-se meios de amostragem, que são preferíveis a não ter absolutamente nada fiável.
Aliás, quando a Fenprof ou outa associação sindical adianta números, não caíam os parentes na lama ao ministério em os analisar conjuntamente. Seria até uma forma de desmistificar os dados dos sindicatos e abriria um processo colaborativo que devia ser incentivado. Os sindicatos não devem nem podem ser vistos como forças antagónicas; pelo contrário, numa sociedade democrática, o seu papel é relevantíssimo e não apenas reivindicativo.
O ministro, tal como os anteriores, caiu na ratoeira demagógica de querer ter um número para se vangloriar, esquecendo-se de que, em matéria de educação e ensino, dificilmente um número espelha completamente uma realidade complexa. Daí a crítica, cada vez mais alargada, aos exames.
Para avaliar o prejuízo decorrente da falta de um professor, não basta ter um número, isso é o mais simples. Falamos de um professor com qualificação adequada? De alguém com formação académica científica, mas sem qualificação pedagógica? Ou mesmo de alguém sem nenhuma formação, mas que vai “entreter meninos”? Um aluno sem professor é mais ou menos prejudicado do que um com um mau professor? Não, a pergunta não é retórica. É preciso não ter medo de dizer que um mau professor pode ser mais prejudicial do que não ter professor. Não basta ter alguém a escrever sumários, é preciso cuidar da qualidade do seu trabalho e esta é outra área onde se tem marcado passo.
É importante ter números, mas que a realidade que se pretende conhecer seja espelhada por eles em toda a sua complexidade e não apenas num dos seus aspetos mais evidentes.
No próximo ano letivo é imperativo ter a máquina montada e operacional para que mensalmente seja possível obter o reporte necessário das escolas, tratar os dados e divulgá-los. Todos temos direito a ter essa informação atualizada.
Nota: O texto reflete apenas os pontos de vista do autor e não, necessariamente, da APESP.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico