Uma onda de calor está a afectar não só Portugal, mas também outros países do Sul da Europa, com os termómetros por vezes a ultrapassar a barreira dos 40 graus Celsius. Espanha, Grécia e Itália estão a enfrentar altas temperaturas mesmo durante a noite. Uma trabalhadora responsável pela limpeza urbana em Barcelona morreu, em casa, depois de terminar uma jornada de trabalho ao ar livre. As autoridades catalãs estão a apurar as causas da morte, sendo aventada a hipótese de golpe de calor.
“Um calor escaldante está a assolar a região europeia neste momento, batendo recordes, sobrecarregando os sistemas de saúde e pondo inúmeras vidas em risco. Ele ameaça silenciosamente as pessoas que mais precisam de protecção: idosos, crianças, trabalhadores ao ar livre e qualquer pessoa que viva com doença crónica”, afirma Hans Henri P. Kluge, director regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), num comunicado divulgado nesta segunda-feira.
A trabalhadora de limpeza que morreu em Barcelona, no sábado à noite, chamava-se Montserrat A. e tinha 51 anos, segundo o diário espanhol El País. Montserrat A. morreu em casa após cumprir o turno das 14h00 às 21h00, em El Raval, na parte histórica da cidade catalã.
Uma autópsia determinará se a morte foi provocada pelo fenómeno climático extremo ou por outra causa. Os termómetros em Barcelona registaram no sábado, dia 28 de Junho, temperaturas acima dos 30 graus Celsius, tendo andado à volta dos 35 graus Celsius “durante várias horas do dia”, refere o jornal El Mundo.
Junho mais quente em Espanha
O Estado espanhol está a caminho do mês de Junho mais quente já registado, informou a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet), prevendo o pico da onda de calor para esta segunda-feira. “Nos próximos dias, pelo menos até quinta-feira, o calor intenso continuará em grande parte de Espanha”, disse Ruben del Campo, porta-voz da agência meteorológica.
Espanha registou no sábado um recorde espanhol para o período: 46 graus Celsius em Granado, na Andaluzia — um marco meteorológico que ainda não teve uma validação final pelos especialistas. O recorde anterior era de 45,2 graus Celsius em Sevilha, em Junho de 1965, de acordo com a Aemet.
Portugal perto do recorde de calor
Portugal não esteve muito longe dos valores máximos registados em Espanha. A temperatura mais elevada registada neste domingo foi de 46,6 graus Celsius em Mora, distrito de Évora, um valor relativamente próximo do máximo absoluto no país (47,3 graus na Amareleja, em Beja, no dia 1 de Agosto de 2003), segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Um anticiclone proveniente do interior do continente africano vai continuar a provocar uma subida progressiva das temperaturas, já que a entrada de uma massa quente e seca com origem no Sara reforça a subida dos termómetros em valores “anormalmente elevados e persistentes, tanto de dia quanto de noite, que podem constituir um risco para as pessoas”, alertou a Aemet.
“As alterações climáticas significam que as ondas de calor já não são raras. Elas estão a tornar-se mais intensas, mais frequentes e mais perigosas”, conclui Kluge no comunicado da OMS.
Itália proíbe trabalho ao ar livre
Em Itália, o Ministério da Saúde emitiu alertas vermelhos de onda de calor para 16 cidades. O site meteorológico IlMeteo.it afirmou que as temperaturas na segunda-feira chegariam a 41 graus Celsius em Florença, 38 graus Celsius em Bolonha e 37 graus Celsius em Perugia.
A região da Lombardia, parte do coração industrial do Norte da Itália, pretende proibir o trabalho ao ar livre na parte mais quente do dia, atendendo a um pedido dos sindicatos, disse o seu presidente.
Mario Guarino, vice-presidente da Sociedade Italiana de Medicina de Emergência, afirmou que os serviços de emergência hospitalar italianos registaram um aumento de 10% nos casos de insolação, “principalmente nas cidades onde não só as temperaturas são muito elevadas, mas também os níveis de humidade são mais altos”.
As principais vítimas do calor extremo são “os idosos, os doentes com cancro e os sem-abrigo, que sofrem de desidratação, insolação e fadiga”, disse Mario Guarino à AFP.
Incêndios florestais na Turquia
As autoridades europeias alertam para o elevado risco de incêndios florestais, que já afectaram alguns países. Nesta segunda-feira, os bombeiros estiveram a combater fogos rurais tanto na Turquia quanto em França.
Na Turquia, os incêndios florestais continuaram pelo segundo dia consecutivo na província ocidental de Izmir, alimentados por ventos fortes, afirmou o ministro das Florestas, Ibrahim Yumakli, forçando a evacuação de quatro aldeias e dois bairros da cidade.
As regiões costeiras da Turquia têm sido devastadas por incêndios florestais nos últimos anos, à medida que a crise climática tem tornado os Verões quentes e secos.
Escolas fechadas em França
Em França, onde as temperaturas devem atingir o pico na terça e na quarta-feira, incêndios florestais deflagraram no domingo no departamento de Aude, no Sudoeste do país, onde as temperaturas ultrapassaram os 40 graus Celsius, refere a Reuters. Cerca de 400 hectares foram destruídos pelo fogo, forçando a evacuação de um parque de campismo e de uma abadia, informaram as autoridades.
O serviço meteorológico Météo-France colocou um recorde de 84 dos 101 departamentos do país sob aviso laranja de onda de calor de segunda-feira até ao meio da semana (em comparação com 73 departamentos sob aviso no domingo).
O pico das temperaturas, em que máximas de 39 a 40 graus Celsius serão “bastante frequentes”, será atingido “por volta de terça ou quarta-feira, consoante a região”. Cerca de 200 escolas deverão ser fechadas durante três dias, total ou parcialmente, por causa do calor, informou o Ministério da Educação.
Uma praia da Bretanha está ainda interdita porque o limiar de gases tóxicos provenientes de algas verdes em decomposição foi ultrapassado.
Alemanha raciona água
A Alemanha emitiu avisos de tempo quente em grande parte das regiões oeste e sudoeste nesta segunda-feira, onde as temperaturas subiram até 34 graus Celsius. As autoridades apelaram aos consumidores para que limitassem o uso de água. Os meteorologistas prevêem que as temperaturas atinjam o pinto máximo no meio desta semana.
A onda de calor fez baixar os níveis de água no rio Reno, segundo a Reuters, dificultando o transporte e aumentando os custos de frete para os proprietários de cargas. Os preços da energia na Alemanha e em França dispararam na terça-feira, uma vez que a onda de calor levou ao aumento do consumo eléctrico para refrigeração.
Nos Países Baixos, onde normalmente se registam temperaturas relativamente mais frias do que noutras partes da Europa, o Instituto Meteorológico Real alertou para que as temperaturas podem estar no intervalo entre 35 e 40 graus Celsius em algumas partes do país nos próximos dias. Amesterdão prolongou o horário de funcionamento dos abrigos para sem-abrigo. com agências