Apesar do cessar-fogo entre o Irão e Israel, pondo fim à guerra de 12 dias que contou com o envolvimento de Washington — ao lado do seu grande aliado, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu —, o ambiente ainda é de tensão. Esta sexta-feira, 27 de Junho, o Presidente dos Estados Unidos ameaçou o Irão com eventuais novos ataques, caso o país do Médio Oriente não abandone o seu programa nuclear.
Em conferência de imprensa na Casa Branca, Donald Trump teceu críticas ao Guia Supremo do Irão, Ali Khamenei, anunciou que deixou cair os planos para levantar sanções impostas a Teerão e admitiu voltar a bombardear o país, caso o Irão retome o programa de enriquecimento de urânio — para servir como combustível em reactores que produzem energia eléctrica ou para construir armas atómicas.
As declarações do chefe de Estado surgem um dia depois de o ayatollah Khamenei aparecer numa mensagem vídeo aos iranianos para declarar vitória. Aproveitou também para condenar os Estados Unidos por exigirem a rendição total do Irão, algo que, garante, nunca acontecerá, e disse que o regime provou ter “acesso a grandes bases americanas”, o que pode repetir-se “em caso de nova agressão”.
Esta sexta-feira, quando questionado sobre se existia a possibilidade de novos bombardeamentos a instalações nucleares iranianas, caso necessário, no futuro, Trump respondeu: “Claro, sem dúvida.”
Entretanto, o Presidente dos Estados Unidos recorreu ao seu canal de comunicação preferido, a rede social Truth Social, para lembrar a Khamenei que salvou a vida do líder iraniano e classificar a declaração de vitória sobre Israel como uma “mentira descarada”.
“O país dele foi dizimado, as suas três maléficas centrais nucleares foram obliteradas. Eu sabia exactamente onde ele estava abrigado e não deixaria que Israel ou as Forças Armadas dos EUA pusessem fim à sua vida”, escreveu o Presidente norte-americano. “Eu salvei-o de uma morte muito feia e ignominiosa e ele não tinha de dizer ‘Obrigado, Presidente Trump!’.”
O líder republicano adiantou que, “nos últimos dias”, esteve a trabalhar para o eventual levantamento das sanções a Teerão, o que facilitaria uma “rápida e total recuperação” do país. “Mas não, em troca recebi uma declaração de raiva, ódio e repulsa, e abandonei de imediato todo esse trabalho”, ripostou.
“No Irão estão sempre tão zangados, hostis, infelizes, e vejam o que isso lhes trouxe — um país destruído, sem futuro, um exército dizimado, uma economia horrível e morte ao seu redor”, acrescentou, em tom de sermão, para Khamenei.
Em reacção aos comentários de Donald Trump, o chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, também aproveitou para deixar recados a Israel e aos Estados Unidos, alertando que, caso sejam cometidos novos “erros”, “o Irão não hesitará em revelar as suas verdadeiras capacidades”.
“Se o Presidente Trump quer realmente um acordo [nuclear com Teerão], deve pôr de lado o tom desrespeitoso e inaceitável com que se dirige ao Guia Supremo do Irão”, escreveu o ministro dos Negócios Estrangeiros na rede social X, já perto da 1h30 de sábado, na hora local. “O povo iraniano — que mostrou ao mundo que Israel não tinha escolha a não ser correr para o ‘papá’ para evitar ser arrasado pelos nossos mísseis — não gosta de ameaças, nem de insultos.”